Fui ao Bradesco e à Lotérica. Dei aulas
pela manhã e à tarde. Ando muito esquecida. Às vezes, tenho amnésia (mas só
para assuntos recentes). Os fatos antigos estão registrados em minha mente.
Abaixo vou transcrever mais um capítulo do
livro: “ A maior
história de todos os tempos: a própria vida” , o capítulo Gênese: Eu sou eu foi escrito
em 2001.
Gênese: Eu sou
eu
Eu fui um bebê, uma
criança, uma adolescente; daqui a alguns anos serei uma pessoa idosa. Mesmo sendo tão diferente do que era
e sabendo que vou ser ainda mais diferente,
não sou nem serei outra pessoa – sou sempre
eu. Completamente diferente
de todas as outras pessoas que existem.
(Adapt. De David
McCord)
29
DE AGOSTO DE 1943. Nasci. De parto
normal – dizem que fui uma linda menina. Fui a quase primogênita. Porque a
primogênita mesmo só teve uma hora de vida. Chamava-se Maria José. Morreu de um
tombo que minha mãe tomara. Como primogênita “emprestada” fui criada com todo o
carinho que é reservado às primeiras filhas, às primeiras netas, às primeiras
sobrinhas...
Meu pai me deu o nome de Nair
Vieira de Rezende. Nair porque era o nome de uma antiga namorada dele. Foi a
primeira grande briga de minha mãe com meu pai. Ela descobriu essa traquinagem
quando eu já estava com uns três meses de idade. Registrada no cartório da
cidade e batizada. Não levei o nome de minha mãe (Nolasco).
O Vieira de Rezende é todo o
sobrenome de meu pai – que ainda é vivo. De meu avô, mas não de meu bisavô
paterno. Dizem que meu bisavô, Honório do Amaral andava corrido da polícia. Ele
havia assassinado um homem e não podia dar o nome ao meu avô quando este
nascera porque senão seria descoberto. Então deu todo o sobrenome da minha
bisavó Eulália: Vieira de Rezende.
Quando eu nasci meu pai tinha 25
anos e minha mãe apenas 19. Ela se casou com 17 anos. Aos 18 teve a Maria José
e um ano após eu. Nasci numa velha “casa” de dois cômodos, de madeira, chão de
terra batida, no Bairro de São Francisco (antigo Cascudo), na cidade de Campo
Grande, que depois se tornaria capital de Mato Grosso do Sul; mas quando nasci
o Estado não havia sido dividido, o que ocorreria só em 1977.
Meu pai trabalhava nos Serviços
Gerais da Casa Nasser, de uns turcos emergentes da cidade. Mamãe era
dona-de-casa. Sair para trabalhar, nem pensar.
Anos mais tarde papai foi trabalhar como autônomo com vendas de frutas,
queijo e manteiga. Eu me lembro que o estoque de manteiga ia até o teto da casa
e queijo e requeijões ocupavam prateleiras e prateleiras...
Com mais ou menos dois anos eu e
meus pais fomos morar no Paraguai, em Assunción. Nesta época, já existia meu
irmão César que é mais jovem que eu apenas um ano e vinte dias. Papai foi ser
Guarda Nacional do recém-criado Território de Ponta Porã (que já não existe).
Ele até hoje se orgulha desse tempo. Guarda sua farda, que se compõe de paletó,
culote e condecorações.
Era
plena Segunda Guerra Mundial.
Nasci no ano em que Mussolini caiu
e a Itália, uma das forças do Eixo, assinou a rendição (o armistício) com os
aliados. Nasci no ano em que ocorreu o fim do Gueto de Varsóvia. Dos judeus que
lá estavam confinados sem direito a trabalho, higiene ou alimentação, restaram
56.055 cadáveres. Segundo os oficiais nazistas, ainda havia a possibilidade de
alguns corpos estarem apodrecendo sob os escombros.
Nasci no ano em que o presidente
Getúlio Vargas promulgou a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) em primeiro
de maio e passou a vigorar em 10-05-43. Um golpe militar liderado pelo ministro
da Guerra, Pedro Pablo Ramirez, derrubou o governo argentino em 4 de junho. O
presidente ultraconservador Ramón Castillo era acusado pelos golpistas de estar
tramando uma fraude eleitoral para beneficiar Robustiano Padrón Costas,
candidato a sua sucessão. Entre os homens fortes do governo está o coronel Juan
Domingo Perón, que assumiria o ministério do Trabalho e da Previdência Social.
Perón chocou os meios militares do país ao se casar com Eva Duarte, uma atriz
de radionovela de segunda linha, mas muito carismática.
Nasci
no ano em que um grupo de intelectuais e políticos mineiros divulgou um
manifesto no qual pedia o fim da ditadura de Getúlio Vargas. Nasci no ano em
que o governo brasileiro lançou uma campanha para o combate ao Eixo na II
Guerra Mundial. Com slogans como Abrindo caminho para a vitória e O
Brasil de hoje defende o Brasil de amanhã, o general Eurico Dutra, fundador
da Força Expedicionária Brasileira (FEB), pretendia levar 100 mil homens para o
palco de operações. O governo americano forneceria equipamentos e treinamento à
tropa. Como já ocorria nos Estados
Unidos, o Brasil começou a vender bônus de guerra, que renderiam 6% ao ano.
Nasci
no ano em que nasceram Janis Joplin, Mick Jagger, Clara Nunes, Catherine
Deneuve e Keith Richards. Nasci, quando também nascia Edu Lobo, no mesmo dia,
mês e ano. Nasci no ano em que morreram a escultora Camille Claudel, discípula
de Auguste Rodin; o compositor russo Serguei Vassilievich Rachimani, autor do
Concerto no. 2 para Piano e
Orquestra.
Quando a Guerra corroía o ser
humano, matava inocentes, vivia à custa de líderes ensandecidos, meu lar vivia
a alegria do nascimento de sua filha. Um ano após, a 20 de setembro de 1.944,
nascia meu irmão César Vieira de Rezende. Muito louro, tez muito branca, magro
e comprido. Hoje, continua magro e comprido, com quase 1m90, vive em Brasília,
é doutor em Administração Pública e advogado, especialista em Direito
Tributário.
Quando
eu ainda não tinha quatro anos, veio ao mundo a minha irmã Alzira Vieira de
Rezende. Dada a precariedade em que vivíamos e a incapacidade de dr. Diôscoro,
ela veio a falecer antes de completar três anos.
Quando
eu tinha seis anos, eis que surge mais um irmão: Renato Vieira de Rezende.
Também de parto normal. Também com a parteira D. Basília, que ajudou minha mãe
a ter Maria José, eu, César e Alzira. Renato hoje é aposentado da Embratel e
continua atleta no Rio de Janeiro. Já representou o Brasil em vários países
como Estados Unidos, Argentina, Chile e Paraguai.
Aos
nove anos, ganhei uma irmãzinha. Era a Vera Lúcia Vieira de Rezende. Eu é que cozinhei nesse dia. Imaginem só! Eu
me lembro desse dia. Mas como cozinhei se hoje não consigo fritar nem um
ovo? E meu almoço foi elogiado! Vera é
Gerente de um Restaurante no Rio de Janeiro.
Com quinze anos ganhei um irmão: o
Sidney Nolasco de Rezende. O único que não veio pelas mãos de D. Basília. O
único a levar o nome de minha mãe.
Nasceu em hospital. Meu pai chegou com a boa nova: “É um meninão”,
dizia-nos ele todo cheio de orgulho. Olhei. Vi. Examinei com o olhar e o achei
tão miúdo, tão pequenininho. Hoje ele é
repórter da TV Globo e da TV Globo News, além de ser repórter de rádio. É jornalista pela PUC/RJ.
Vocês pensam que a prole parou por
aí? Já no segundo casamento, nasceu Alda Aparecida Brum de Rezende. É a única (além de mim) que mora em Salvador
e – para variar – é professora. E de História.
Naqueles
idos, tempo de guerra e pós-guerra não existiam brinquedos para vender. Só
armas. Nunca tive boneca. Só anos mais tarde, lá pelos 13 anos é que ganhei uma
boneca de plástico. Eu a tenho até hoje. Foi a única. As demais foram feitas
pela minha avó Teresa e pela minha tia Teresinha. Eram lindas bonecas de pano.
Que depois eram abertas com faca e minha avó dizia assim: “veja o sangue dela”.
Eram feitas com enchimento de crina animal tingida de vermelho ou lã de carneiro.
Meus irmãos ganhavam carrinhos feitos com rodas de
carretel de linha e latas de azeite (chamávamos o “óleo” de “azeite”). Eram
carrinhos que César andava puxando com uma linha amarrada no carro e Renato
examinava, examinava o carrinho e também puxava por um fio. Brincávamos com
gravetos, pedrinhas e garrafas. Nossa imaginação transbordava. Inventávamos
histórias que depois acreditávamos nelas.
Foi
um tempo de ingenuidade, que não sei se as crianças hoje em dia continuam
ingênuas assim até os oito/nove anos. É um tempo em que ficávamos horas
observando as formiguinhas indo e vindo em seus caminhos. Observávamos o
beija-flor que vinha beijar as flores ou o vaga-lume que, com sua luz passeava
em nosso imaginário, criando lindas e fantasiosas histórias.
Brincávamos debaixo das goiabeiras, jaqueiras, mangueiras ou
jamelãozeiras. Ali imaginávamos coisas, situações, histórias,... Dávamos nome
de gente às garrafas. Me lembro de Fred.
Era uma garrafa verde, dessas de vinho, magras e altas. Fred ia à cidade, fazia
compras, montava cavalo, ia à fazenda... Tinha o Guido: era outra garrafa!
Naquele
mundo do faz-de-conta viajávamos em nossa fantasia. Mas existia um mundo
prático por trás disso: meu pai deixava obrigações para a gente cumprir. Por
exemplo, catar goiabas podres para dar para os porcos, as boas seriam para
vender ou para fazer doce no tacho de cobre, ou varrer o quintal, ou lavar os
queijos, ou separar as garrafas de mel...
Nós
brincávamos, brincávamos, quando víamos nosso pai vindo lá longe, corríamos
para cumprir a obrigação. Se não cumpríssemos o castigo era maior, mais coisas
para fazer.
A frase
do dia: “Os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente
e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar” (SÊNECA,
filósofo Eduardo apud Jornal A Tarde, de
16-09-2013).
A História está cheia de
representantes do primeiro grupo e também os do segundo grupo. Na vida comum os
do segundo grupo superam os do primeiro.
16 de setembro
de 1908, General Motors foi fundada por
William Durant. Em 16 de setembro de 2004, a Assembleia da República de
Portugal aprovou, por unanimidade, traslado dos restos mortais de Manuel de Arriaga para o Panteão
Nacional de Santa Engrácia. Em 16 de setembro de 1914, nasceu o cantor e
compositor brasileiro Lupicínio
Rodrigues. Em 16 de setembro de 1925, nasceu o cardeal brasileiro Dom Frei Lucas Cardeal Moreira Neves. Em
16 de setembro de 1896, morreu o compositor brasileiro Carlos Gomes. Em 16 de setembro de 1977, morreu a cantora lírica
americana de origem grega Maria Callas. Hoje
é comemorado o Dia da Independência do México e Dia Internacional da Camada de
Ozônio e Ozonosfera.
Uma boa notícia que deu no jornal A Tarde, de 16 de setembro de 2013, 2a.
feira: “Produção – Certificação abre novos mercados para o setor de algodão”.
Uma notícia ruim que deu no jornal A Tarde, de 16 de setembro de 2013, 2a.
feira: “Tragédia – Mau tempo mata nove pessoas e desaloja seis mil no México”.
Li no Jornal A
Tarde, de 16 de setembro de 2013, 2a. feira, que trouxe a seguinte
manchete: “Consumidor – Médicos saem de
planos e prejudicam usuário”. Sob a alegação dos baixos valores pagos pelos
planos de saúde, os médicos estão migrando das operadoras para o atendimento
particular. O descredenciamento dos profissionais prejudica os usuários. Eles
pagam mensalidade às operadoras de saúde e têm dificuldade para continuar a ser atendidos por médicos de sua confiança.
Fiz palavras cruzadas e sudoku.
Até
amanhã meus fiéis seguidores!
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